Sanctuarium Deni

 


DENI
Nomes alternativos: Dani
Classificação linguística: Arawá
População: 875 (Funasa – 2006)
Local: Amazonas

    Compreendem mais de 600 tribos indígenas que habitam uma planície entre os Rios Purus e Juruá, localizados no Amazonas. Considerados como Tribo Arawa, os Deni são parte do braço linguístico Aruak. A primeira menção aos Deni aparece no relatório SPI de 1942. 

    São divididos em grupos ou clãs. Cada clã tem certa autonomia política, possuindo sua própria auto-identidade: Bukure Deni, Kuniva Deni, Minu Deni, Varasa Deni, Hava Deni, Madija Deni. Devido ao baixo potencial agrícola do solo da floresta, os Deni equilibram sua dieta com a flora e a fauna selvagens.


    Os Deni são nômades e sua população das aldeias oscila bastante, as aldeias são apenas uma agregação de grupos familiares e de famílias. Eles não possuem uma unidade inerente como comunidade. 

    A religiosidade e cosmovisão do povo Deni, parte do pressuposto que a criação do mundo vem de um grande lagarto falante. 

    Onde o espírito Mahaniru criou as plantas que nascem em pé (abacaxi, macaxeira, banana...). Um dos ancestrais, de nome Nadiha, trouxe os vegetais que cresciam na horizontal (Batata, Cará...)

    Atualmente, o xamanismo é cada vez mais raro entre os Deni. Tradicionalmente, os xamãs (zupinehé) são preparados para exercer o cargo desde os três anos de idade. 

    
    De acordo com o que levantou Koop (1983), a diferença fundamental entre os xamãs e os outros homens é a presença de uma substância chamada Katuhe em seus corpos, e a habilidade de comunicar-se pessoalmente com espíritos (tukurime). Katuhe é uma cera amarela e densa extraída de colméias na floresta.

    O Xamã mastiga essa substância antes de ter visões e comunicar-se com os espíritos. Ele pode ficar enjoado, mas depois de aproximadamente duas semanas de mastigação, vomitando e dormindo em sua rede, ele afirma que voa até o céu, onde escuta o Tukurime.

    A principal atribuição do xamã da aldeia é ter visões e uma interlocução com o mundo espiritual, de modo que possa identificar as causas de doenças e mortes, assim como orientar a população a prevenir-se contra essas adversidades.


    Ainda segundo Koop, quando um Deni morre, o xamã busca conversar com seu espírito para determinar a causa da morte. Para isso, mastiga katuhe até ter uma visão na qual ele cria asas, voa até o céu e vê os espíritos de índios (Abanu) e espíritos perigosos. 

    Ele então desvenda o que acontecera com o espírito da pessoa morta ou quem a agredira. A partir dessa informação, o povo decide se deve mudar-se para outro lugar ou fazer algo para evitar futuras agressões.


    Além de tratar de pessoas enfermas, tradicionalmente o xamã tem ainda algumas responsabilidades políticas. Assim como o chefe da aldeia, ele pode convocar todos para uma festa. Em todas as festas, o xamã era o cantador por excelência. Após uma noite de festa, os homens reuniam-se na praça da aldeia de braços dados, com o xamã próximo ao centro. 

    Depois das mulheres se alinharem na frente dos homens, o xamã iniciava cada canção e os outros o seguiam cantando, dançando, primeiro para frente, depois para trás ao redor do círculo (Koop, 1983). 


    Hoje em dia a função de cantador pode ser desempenhada por outras pessoas. De todo modo, em todas as festas, o cantador – Hiridé – desempenha papel fundamental. Todos os Deni cantam e muitos têm músicas próprias, algumas de muito sucesso.

    Em 1999, tive a oportunidade de observar um ritual de cura na aldeia Marrecão. Sivirivi, da aldeia Cidadezinha, tinha alergia a carne de porco-do-mato (Anubezá) e, toda vez que a consumia, tinha problemas digestivos. No dia 25/04/1999, Sivirivi estava passando muito mal e me pediu para levá-lo à aldeia Marrecão para o Zupinehé rezar, pois, segundo ele, essa era a única forma de se curar. 


    Chegamos ao Marrecão e fomos até a casa de Zutihári, que colocou o doente deitado sobre uma prancha de madeira. O Zupinehé passou então a retirar a doença sugando os locais afetados (estômago e intestino) e cuspindo em seguida. Ao mesmo tempo, ele massageava a região afetada. 

    O trabalho de cura demorou oito minutos, ao final do qual foram retiradas duas pedras da barriga de Sivirivi. Pouco tempo depois o doente disse se sentir aliviado e finalmente desapareceram os sintomas do mal-estar.