APIAKÁ
Nomes alternativos: Apiacá
Classificação lingüística: Tupi-guarani
População: 192 (Funasa – 2001)
Local: Amazonas, Mato Grosso, Pará

    Os Apiaká vivem no norte do Estado de Mato Grosso. Encontram-se dispersos ao longo dos grandes cursos fluviais Arinos, Juruena e Teles Pires. Parte deles reside em cidades como Juara, Porto dos Gaúchos, Belém e Cuiabá. Tem-se notícia também da existência de um grupo arredio. 

    A maior parte de sua população encontra-se aldeada na Terra Indígena Apiaká-Kayabí, cortada pelo rio dos Peixes. Os Apiaká vivem na margem direita do rio e os Kayabí, na margem esquerda. Os Apiaká eram um povo numeroso, constituindo uma aldeia de até 1.500 pessoas, além de outras também populosas.
    
    O mundo subaquático é concebido como uma réplica do mundo humano, com roçados e casas; os temidos seres encantados que aí habitam, designadamente a mãe d’água (em Apiaká: ajáng), a sucuriju (mosahúa, a dona dos peixes) e os botos (piraputóa), por vezes tentam seduzir os humanos; quando conseguem capturar a “sombra” (ang, sinônimo de espírito e alma) de uma pessoa, o corpo dela pode definhar até a morte. 


    A vítima desses seres torna-se apática, pode apresentar febre e inapetência, ter pesadelos, delírios e passar a recusar o convívio dos co-residentes; é preciso então acionar um rezador, que faz orações e agita folhas de pião-roxo sobre o corpo do doente.

    Na mata existem o Siruría, ser antropomórfico que confunde o caçador, fazendo com que se perca; a cobra jiboia e uma certa liana (cipó-alho) também desorientam o homem, que passa a andar em círculos e perde a trilha; o macaco juruparí, que ataca à noite, degolando a vítima e sugando seu sangue; o capelobo (ou mapinguari), ser fedorento que causa morte aos homens; os bandos de queixada que, se desafiados com atitudes inadequadas da parte do caçador, como gritos e gargalhadas, podem capturar seu espírito, mal que deve ser curado por meio de banhos com plantas da floresta. 


    O Sirurekanjíga, dono, chefe e espírito das espécies animais, não representa propriamente um perigo para os homens, mas não pode ser alvejado em hipótese alguma; para assegurar a abundância de caça, os homens costumam agradá-lo, deixando um cigarro na cavidade de um tronco. 

    Como se nota, a relação com o “dono dos animais” define-se como uma espécie de camaradagem respeitosa: é possível convencê-lo, mediante presentes, a liberar uma quantidade razoável de caça para a alimentação.

    Os Apiaká acreditam que a pessoa consiste de alma (ang) e corpo, e que alma pode se desligar do corpo provocando doenças. 

    Eles dão valor ao autocontrole e temem os efeitos de doença quando a pessoa pode ser 'desmentada'. A pessoa 'dementada' de doença demonstrar a possibilidade de deixar de ser humano. 


Uma pessoa pode transformar-se em espírito de animais. A doença é a culpa da pessoa ou outra pessoa e uma pessoa assim 'desmentada' deve procurar um 'puxador' na aldeia para aplicar cremes e massagens no corpo.

O homem que atacar o boto pode adoecer e está em perigo ser atacado pelo animal e ser levado para a terra situada em baixo do rio.



A transformação controlada em bicho é feita pelos pajés. Entretanto os Apiaká afirmam que não têm curandeiros ou pajés, mas acreditam nos seus poderes e procurá-los entre as outras etnias. 

Os pajés que são maus, e eles, juntamente com a transformação associada com a doença, são indicações da instabilidade da condição humana. 

A capacidade de socializar e manter relações humana deve predominar na pessoa sobre a parte animal (Tempesta 2009). 

Antigamente os Apiaká tinham pajés e praticavam cerimônias de danças, mas hoje são Católicos.

Quando alguém morreu dentro de uma casa, o esposo ou a viúva permaneceu de luto por um ano com o rosto pintado preto, observando restrições de alimento. Hoje em dia a casa é abandonada e o nome do falecido nunca é prenunciado (Wenzel 1996).

Cosmovisão: Conforme Nimuendajú os Apiaká creiam em um deus criador dos céus e da terra, que revela a sua ira por meio de relâmpagos e trovões. Dois heróis míticos agora vivem na Via Láctea perto do Cruzeiro do Sul (Wenzel 1996). 

Na terra a mata é habitada por diversos seres malignos. O siruría um antropoide em conjunto com o cipó-alho e a jiboia pode desnortear o caçador. O macaco jurupari degola a gente à noite para chupar o sangue. 


    O dono dos animais de caça controla a abundancia de caça, e o caçador tem de apaziguá-lo com um charuto, deixando-o em uma cavidade de um tronco de uma árvore. 

    O mundo sob as águas é uma réplica do mundo dos homens. É habitado por seres encantados, como os botos, a dona dos peixes e a mãe d'água. Estes vivem em casas e têm roças. Se a sombra de uma pessoa é capturada por esses seres, ela adoecer e morrer (Tempesta 2009).