MUNDURUKUS
Povo de tradição guerreira, os Munduruku dominavam culturalmente a região do Vale do Tapajós, que nos primeiros tempos de contato e durante o século XIX era conhecida como Mundurukânia.
Hoje, suas guerras contemporâneas estão voltadas para garantir a integridade de seu território, ameaçado pelas pressões das atividades ilegais dos garimpos de ouro, pelos projetos hidrelétricos e a construção de uma grande hidrovia no Tapajós.
Nas práticas religiosas os pajés exercem um papel primordial de cura através de manipulação de ervas, atos de defumação e contato com o mundo dos espíritos.
A religiosidade tradicional é muito presente entre os Munduruku, mesmo com as mudanças sofridas com a colonização.
A religiosidade está presente em todos os aspectos da vida cotidiana, regendo as relações com a natureza, as práticas do mundo do trabalho e as relações sociais.
A religiosidade está presente em todos os aspectos da vida cotidiana, regendo as relações com a natureza, as práticas do mundo do trabalho e as relações sociais.
Há a presença de duas missões religiosas. A Missão São Francisco, localizada na aldeia Missão, no rio Cururu, instalada em 1911; e a Missão Batista, que iniciou suas atividades em fins da década de 1960, estando situada na aldeia Sai Cinza, no rio Tapajós, com uma distância de cerca de 40 minutos de lancha da pequena cidade de Jacareacanga.
Como falei anteriormente, as interferências na vida cultural e religiosa dos Munduruku estão presentes devido à atuação das duas instituições religiosas, porém, os Munduruku em sua maioria, apesar de participarem dos rituais católicos e protestantes, dificilmente podem ser considerados como plenamente convertidos.
Atualmente não há mais uma objeção aberta por parte das Missões às práticas de pajelança. E ao que parece os Munduruku não atribuem grande importância às condenações feitas pelas religiões cristãs à sua religiosidade tradicional.
A presença de missões de diferentes religiões não causou entre os Munduruku rivalidades ou disputas deste cunho, fato que pode significar que eles atribuem soluções e interpretações próprias no que diz respeito a religião.
RITUAIS DOS MUNDURUKUS...
Os deslocamentos das aldeias tradicionais para o estabelecimento nas margens dos rios, por certo contribuiu também para o desaparecimento da casa dos homens, unidade importante na aldeia tradicional e na permanência de alguns rituais de caráter coletivo que estavam relacionados às atividades de provisão de alimentos, divididas entre a estação da seca (abril a setembro) e a estação das chuvas (outubro a março).
Entre estes rituais estava o da Mãe do mato, realizado no início do período das chuvas, visando obter permissão para as atividades de caça, proteção nas incursões pela floresta e bons resultados na caçada.
Alguns elementos desta atividade ainda estão presentes, ou foram recriados com novos significados, especialmente na relação de respeito com os animais caçados, nas práticas do cotidiano do homem caçador para obter caça e nas regras alimentares.
Outro ritual é o Sairê, uma dança em círculos formada por homens, mulheres, crianças, jovens e anciãos da aldeia.
E o principal ritual, as Cabeças Mumificadas, que era praticado após vencerem uma batalha. Ele era composto por três partes.
A primeira denominada Inyenborotaptam, ornamentação de brincos de penas. A decoração da cabeça representava a sua introdução em um segmento daquela sociedade. Cada matador adornava o seu troféu com penas que eram específicos de seu clã.
Além disso, o rito consagrava o seu dono na condição de Dajeboishi e marcava o inicio de um longo e rigoroso resguardo, que se fosse descumprido, levava o matador a perder antecipadamente sua qualidade de proporcionador da caça.
A segunda parte do ritual era realizado no período de chuva, o Yashegon, quando ela era cozida e esfolada.
No inverno, completava-se o clico com a festa Taimetoröm, na qual os dentes extraídos para confecção do troféu eram enfileirados em um cinto de algodão, denominado Pariuaete-ran.
Essa era a mais elaborada das cerimonias e os donos das cabeças convidavam os aliados para comerem os couros da caça do Dejaboishi.
Antes da festa, era realizada uma grande caçada, na qual adquiriam as provisões para o dia marcado. Nesse dia, toda a tribo se reunia para assistir o Tuchaua confeccionar o cinto e enfeitá-lo com os dentes dos inimigos, os quais eram limpos e furados, para serem depois pendurados.
Durante este trabalho, todos os presentes permaneciam nus e sentados, entoando hinos guerreiros. Terminado o cinto, todos se dirigiam à Casa dos Homens, denominada por eles de Exçá, para vestirem os seus trajes de festa e se armarem.
*DEUSES CULTUADOS...
A Missão católica, além de ter exercido influência na concentração da população nas margens do rio Cururu, difundiu princípios do catolicismo, como o batismo do recém-nascido como obrigatório e o casamento religioso.
No entanto, em relação ao mundo da religião indígena, mesmo considerando que as práticas de conversão não diferem em essência das praticadas no período colonial, com a condenação dos rituais de pajelança, os avanços em termos de conversão católica podem ser considerados modestos tendo em vista que os Munduruku são extremamente ligados ao mundo de sua religião tradicional.
Um dos principais deuses dos Mundurucus, é o Caro Sacaibu, um criador onisciente e herói civilizador, pois ensinou aos homens e a caça e a agricultura. Ele foi maltratado pelos Munducurus, retirou-se ao mais alto do céu, onde se confunde com a cerração.
No fim do mundo, ele queimará os homens no fogo. Mas, é benévolo e atende as preces dos que a ele recorrem (antes da caça, da pesca, e nas doenças). Castiga os maus e acolhe benignamente os bons.