Sanctuarium JARAWARA

 


JARAWARA
Nomes alternativos: Jaruára, Yarawara, Jarauara
Classificação linguística: Arawá
População: 180 (Funasa – 2006)
Local: Seis aldeias dentro da área
 indígena Jamamadi-Jarawara,
no município de Lábrea, Amazonas.

    A reserva fica perto do rio Purus,acima de Lábrea e no lado oposto do rio. Os Jarawara pertencem aos povos indígenas pouco conhecidos da região dos rios Juruá e Purus. 

    Eles falam uma língua da família Arawá e habitam apenas a Terra Indígena Jarawara/Jamamadi/Kanamanti, que é constantemente invadida por pescadores e madeireiros.

    O cosmos Jarawara está divido em quatro lugares distintos: a terra, o céu, as águas e abaixo da terra. O céu e a terra são extremamente parecidos, e são habitados pelos mesmos tipos de seres: humanos, animais, plantas, espíritos de animais e plantas, e monstros. 

    No entanto, o céu parece ser em uma versão melhorada da terra. Lá todo mundo é jovem e belo, e os caçadores conseguem carregar uma anta sozinhos. Existe ainda um céu mais acima do céu, onde mora Jesus, mas este os Jarawara não conhecem e não sabem descrever, pois os xamãs nunca o visitaram, ao contrário do céu “perto”, que eles vão e vem quando bem entendem. 

    Abaixo da terra moram os espíritos de algumas plantas, como a mandioca, e também os “espíritos velhos” (Inamati bote) que são canibais e sobem à terra constantemente atrás de humanos para suas refeições. E, finalmente, nas águas e rios moram os monstros mais perigosos dos cosmos, os Maka (que literalmente significa cobra), que têm a capacidade de transformação corporal e podem ser vistos tanto em forma humana como em forma animal. 


    Os Jarawara vivem na terra e estão sempre atentos para não terem suas almas raptadas pelos outros seres (terrestres ou não), mas, como explicaremos abaixo, eles possuem também laços de parentesco bastante estreitos com os habitantes do céu.

    Para os Jarawara, quando as árvores e plantas cultivadas estão começando a crescer (ainda estão “baixas”) seus espíritos saem debaixo da terra e começa a chorar. Os espíritos que moram no céu ouvem o choro e descem para buscar esta “criança”. 

    Eles a levam para o céu, onde ela é adotada ou vai morar com o espírito de algum Jarawara consanguíneo que morreu. Este espírito de planta, que agora mora no céu, é considerado tanto “filho” da pessoa que o plantou como “filho” da planta da qual saiu. Eles dirão, por exemplo, que ele é “filho do Okomobi” e “filho da banana”, mas ao mesmo tempo ele também é filho adotivo daqueles que o criam no céu.


    Quando uma pessoa morre na terra, ela é enterrada ao lado de uma das árvores que plantou. Depois de alguns dias, ou no cair da noite do próprio dia do enterro, os Jarawara afirmam que diversos “seres” saem da cova, ou melhor, saem de dentro do corpo (mais especificamente da barriga e do fígado). 

    Eles são pelo menos três dos seguintes: um espírito de onça, um espírito (Inamati), um monstro (Yama), e um animal, como macaco, gavião ou anta. Cada um destes seres terá uma destinação particular. O animal irá vagar pela terra e poderá ser caçado por um Jarawara a qualquer momento. 

    O espírito da onça será levado por um xamã do céu que irá domesticá-lo. O monstro será levado por um espírito de planta benfeitor, que o prenderá em algum lugar não conhecido, ou vagará pela terra, atormentado a vida de todos, pois será canibal. 

    O espírito que sai como espírito mesmo poderá ter uma das duas destinações descritas abaixo, ou pode haver dois espíritos que saem da mesma pessoa, cada qual indo para um lugar. 

    A primeira opção é que os “filhos” e “netos” do indivíduo morto venham buscá-lo para levá-lo ao céu. Estes “filhos” e “netos” são de fato aqueles espíritos que saíram das plantas que o indivíduo plantou no decorrer de sua vida.

     Ou seja, quanto mais árvores um Jarawara plantar, mais “filhos” ele terá no céu. Assim que chegar lá, o espírito do indivíduo que morreu ficará alguns dias na aldeia de seus “familiares” descansando. 


    Terminado este período, ele será levado para outra aldeia do céu, onde passará pelo ritual de iniciação feminina, sendo ele homem ou mulher. Neste ritual, ele será chicoteado (como ocorre com as meninas na terra) e quando as feridas cicatrizarem, ele poderá voltar para a aldeia de seus “filhos” e “netos”, sempre no céu, onde permanecerá junto a seus “parentes”.

    A segunda opção para um espírito que sai de dentro de uma pessoa morta é que ele chame seus “filhos” do céu (espíritos que saíram das plantas que ele cultivou em vida) para virarem queixada. Todos eles descem até a terra, onde os “filhos” de outras pessoas (espíritos de plantas que pessoas que vivem na terra plantaram) batem neles com um bastão para que se transformem em queixada.

     O morto e seus “filhos” se tornam queixada e passam a morar na terra, também suscetíveis de serem caçados e comidos pelos Jarawara a qualquer momento. O espírito da pessoa que morreu, e que chamou seus “filhos” (das plantas) para virarem queixada, será o “dono (Hitiri) dos queixadas”, ou melhor, o dono deste bando de queixadas. 

    Este espírito pode aparecer para os xamãs Jarawara sem avisar nem ser chamado, e informar onde estão os queixadas, o que resultará em uma caçada bem sucedida pelos homens se eles forem ao lugar indicado. 

    Ao mesmo tempo, este espírito “dono dos queixadas” (que é, recordamos, um Jarawara falecido) possuí vínculos de parentesco com os vivos, e assim, se um grupo de queixadas é visto bem perto da aldeia, os Jarawara explicam o acontecimento dizendo que o “dono, nosso parente, teve saudades dos seus e veio visitá-los, mostrando o caminho e trazendo os seus filhos queixadas” (os quais os Jarawara matarão e comerão se pegarem suas espingardas a tempo).