Sanctuarium YANOMAMI



YANOMAMI

Nomes alternativos: Yanoama, Yanomani, Ianomami, Yanomámi, Waicá, Waiká, Yanoam, Yanomam, Yanomamé,
 Surara, Xurima, Parahuri
Classificação linguística: Yanomami
População: 15.682 (Funasa – 2006)
Local: Posto Waicá, Rio Uraricuera, Roraima;
 Posto Toototobi, Amazonas; 
Rio Catrimani, Roraima

Povo constituído por diversos grupos cujas línguas pertencem à mesma família, não classificada em troncos. 

Denominada anteriormente Xiriâna, Xirianá e Waiká, a família Yanomami abrange as línguas Yanomami, falada na maior extensão territorial, Yanomám ou Yanomá, Sanumá e Ninam ou Yanam, as quatro com vários dialetos. 

Os Yanomami vivem no oeste de Roraima, no norte do Amazonas e na Venezuela, num total de 20 mil índios.


É o último povo indígena das Américas que conseguiu sobreviver mantendo seu patrimônio cultural e social. Seus membros, 7822 indivíduos, vivem dos dois lados da fronteira entre o Brasil e a Venezuela, próximo ao Pico da Neblina. 


Os Yanomami abrem várias trilhas para ligar as diferentes aldeias com as áreas de caça, os acampamentos de verão e as roças recentes e antigas. 

Eles fazem um constante rodízio entre esses lugares e com isso, a floresta se recupera com rapidez. Todos da tribo moram numa imensa casa coletiva e as crianças ocupam um lugar de destaque, suas necessidades são prontamente atendidas e seus pedidos sempre levados em conta. 

Embora haja um intercâmbio freqüente de mulheres e produtos, cada uma das aldeias tem completa autonomia política e administrativa. Esses índios queimam os seus mortos e comem as cinzas. Eles acreditam que os espíritos, que podem ser bons ou maus, habitam as plantas e animais. 

Os garimpeiros disputavam suas terras desde 1987, atraídos pelas grandes reservas de diamante, ouro, cassiterita e urânio, colocando em risco a sobrevivência do povo Yanomami. Em 1990, o governo brasileiro adotou medidas de proteção às terras indígenas, iniciando a retirada dos garimpeiros.



URIHI, A TERRA FLORESTA...

A palavra Yanomami Urihi designa a floresta e seu chão. Significa também território: Ipa Urihi, "minha terra", pode referir-se à região de nascimento ou à região de moradia atual do enunciador; Yanomae Thëpë Urihipë"a floresta dos seres humanos", é a mata que Omama deu para os Yanomami viverem de geração em geração; seria, em nossas palavras, "a terra yanomami". Urihi pode ser, também, o nome do mundo: Urihi a Pree, "a grande terra-floresta".

Fonte de recursos, Urihi, a terra-floresta, não é, para os Yanomami, um simples cenário inerte submetido à vontade dos seres humanos. Entidade viva, ela tem uma imagem essencial (Urihinari), um sopro (Wixia), bem como um princípio imaterial de fertilidade (Në rope).


Os animais (Yaropë) que abriga são vistos como avatares dos antepassados míticos homens/animais da primeira humanidade (Yaroripë) que acabaram assumindo a condição animal em razão do seu comportamento descontrolado, inversão das regras sociais atuais. 

Nas profundezas emaranhadas da Urihi, nas suas colinas e nos seus rios, escondem-se inúmeros seres maléficos (Në waripë), que ferem ou matam os Yanomami como se fossem caça, provocando doenças e mortes. No topo das montanhas, moram as imagens (Utupë) dos ancestrais-animais transformadas em espíritos xamânicos Xapiripë.


Os Xapiripë foram deixados por Omama para que cuidassem dos humanos. Toda a extensão de Urihi é coberta pelos seus espelhos onde brincam e dançam sem fim. 

No fundo das águas, esconde-se a casa do monstro Tëpërësik«sogro de Omama, onde moram também os Espíritos Yawarioma, cujas irmãs seduzem e enlouquecem os jovens caçadores yanomami, dando-lhes, assim, acesso à carreira xamânica.


OS ESPÍRITOS XAPIRIPE...

A iniciação dos pajés é dolorosa e extática. Ao longo dela, inalando por muitos dias o pó alucinógeno Yãkõana (resina ou fragmentos da casca interna da árvore Virola secados e pulverizados) sob a condução dos mais antigos, aprendem a "ver/ conhecer" os espíritos Xapiripë e a "responder" a seus cantos.

Os Xapiripë são vistos sob a forma de miniaturas humanoides enfeitadas de ornamentos cerimoniais coloridos e brilhantes. 

Sua dança de apresentação é comparada à ruidosa e alegre chegada de grupos convidados, ricamente adornados, numa festa intercomunitária Reahu. São, sobretudo, "imagens" xamânicas (Utupë) de entes da floresta.


Existem Xapiripë de mamíferos, pássaros, peixes, batráquios, répteis, lagartos, quelônios, crustáceos e insetos. 

Existem espíritos de diversas árvores, espíritos das folhas, espíritos dos cipós, dos Méis silvestres, da água, das pedras, das cachoeiras… Muitos são também "imagens" de entidades cósmicas (lua, sol, tempestade, trovão, relâmpago) e de personagens mitológicas. 


Existem também humildes Xapiripë caseiros, como o espírito do cachorro, o espírito do fogo ou da panela de barro. Existem, enfim, espíritos dos "brancos" (os Napënapëripë, mobilizados, por homeopatia simbólica, para combater as epidemias) e de seus animais domésticos (galinha, boi, cavalo).


O TRABALHO DOS PAJÉS...

Uma vez iniciados, os Pajés Yanomami podem chamar até si os Xapiripë, para que estes atuem como espíritos auxiliares. 

Esse poder de conhecimento/ visão e de comunicação com o mundo das “imagens/essências vitais” (Utupë) faz dos pajés os pilares da sociedade yanomami. 

Escudo contra os poderes maléficos oriundos dos humanos e dos não-humanos que ameaçam a vida dos membros de suas comunidades, eles são também incansáveis negociadores e guerreiros do invisível, dedicados a domar as entidades e as forças que movem a ordem cosmológica.


Controlam a fúria dos trovões e dos ventos de tempestade, a regularidade da alternância do dia e da noite, da seca e das chuvas, a abundância da caça, a fertilidade das plantações, sustentam a abóbada do céu para impedir sua queda (a terra atual é um antigo céu caído), afastam os predadores sobrenaturais da floresta, contra-atacam as investidas de espíritos agressivos de pajés inimigos e, principalmente, curam os doentes, vítimas da malevolência humana (feitiçarias, xamanismo agressivo, agressões ao duplo animal) ou não-humana (advinda dos seres maléficos Në waripë).


VER OS ESPÍRITOS XAPIRIPÊ... 

PARA DESENVOLVER SUAS SESSÕES, 
OS PAJÉS INALAM O PÓ YÃKÕANA 
Considerado como Comida dos Espíritos. 


Sob seu efeito, dizem "morrer": entram num estado de transe visionário durante o qual "chamam" a si e "fazem descer" vários espíritos auxiliares, com os quais acabam identificando-se, imitando as coreografias e cantos de cada um em função da sua mobilização na pajelança (designam-se os pajés como Xapiri thëpë, "gente espírito"; o fazer pajelança diz-se Xapirimu, "agir enquanto espírito"). 



Assim, quando "seus olhos morrem", os pajés adquirem uma visão/ poder que, ao contrário da percepção ilusória da "gente comum" (Kua Përa Thëpë), lhes dá acesso à essência dos fenômenos e ao tempo de suas origens, portanto, à capacidade de modificar seu curso.