Sanctuarium KAXARARI

 


 KAXARARI
Nomes alternativos: Kaxariri
Classificação linguística: Pano
População: 323 (Funasa – 2006)
Local: Alto Rio Marmelo, tributário do Rio
 Abuna, Acre, Rondônia, Amazonas

O cacique Alberto César, 54, conta que Kaxarari é nome atribuído pelos brancos, a autodenominação é Runí-cuní e a língua pertence à família linguística Pano. “Queremos resgatar as danças e a língua. Velho que morreu há três anos nunca viu a dança, mas guardou as histórias”.


Em 1924, uma epidemia de sarampo dizimou grande parte da população, em 1957-58 eram 13 famílias. Hoje são cerca de 400 pessoas divididos em 4 comunidades: Pedreira, Paxiúba, Barrinha e Marmelinho, que ocupam uma área de 145 mil hectares demarcados em 1987.


Os Kaxarari não mais praticam seus rituais tradicionais como o xamanismo. A principal técnica de cura dos pajés era a de sucção.

“Antigamente tinha pajé pra curar a gente. Quando adoecia, ele chupava no corpo e tirava aquelas pedras do corpo do doente e jogava a doença fora. Rezava pro doente ficar logo bom. Tomava rapé e Kupá pra curar. Sabia muitos remédio da mata, mas agora não, mais pajé não. Tudo se acabou” (Depoimento de Antônio Caibú, extraído de Os Kaxarari (1984) de Terri Vale de Aquino).

Não existem mais pajés entre os Kaxarari. Também faziam muitas comemorações e cantorias de roda. Era comum em suas festas fazerem vestimentas de palha do olho do buriti, enfeites de penas, couros de onça, máscaras e pinturas. 

Tinha a festa do Buiarri, que era a festa das frutas, quando todos iam para a mata apanhar ingá, naja, frutas de maçaranduba. Uma de suas brincadeiras era o Bili, um jogo de bola de caucho, jogado com o joelho, parecido com o futebol dos Cariú [não-índio].

O Kupá era uma prática xamânica que provocava estados alterados de consciência, que “dava porre, suava muito, fazia sonhar e curava”. Era uma espécie de lavagem feita por um tipo de planta.

A bebida Kupá, no princípio era restrita aos homens e ingerida somente pelos mais velhos. Mulheres e crianças não participavam do ritual de abertura dos trabalhos. 
Curiosamente houve casos de mulheres que atuavam como pajé e ministravam diagnósticos e curas de enfermidades de origem alegada aos espíritos. 

A cura muitas vezes era ministrada através do sopro de fumaça de tabaco sobre o local ou até mesmo todo o corpo do paciente (Biakintahi). Quando sob o efeito do Kupá, o pajé podia ver que tipo de enfermidade ou presença espiritual estava agindo no paciente.



As sociedades da floresta de um modo geral são ágrafas e de tradição oral. Dessa forma a memória de seus membros é a fonte de acesso às suas crenças, seu passado mítico, a genealogia, enfim a sua história como povo.

Cultivam suas tradições através da oralidade, dos relatos dos velhos e velhas de como era o tempo de antigamente, pois todos os povos tem uma explicação particular para a origem do mundo, dos objetos, dos animais, da criação do homem e da sociedade.

Essa transmissão de conhecimento não sendo compulsória ou pré-determinada depende de vários fatores, inclusive de tempo e de interlocutores apropriados a executar essas performances orais, muito valorizadas nas sociedades ágrafas. 


Como o espaço e o tempo de transmissão de conhecimento não são institucionalizados, a questão da sua realização esta interligada às relações pessoais, os dias de chuva, com o respeito que os velhos e o seu conhecimento antigo desperta nas gerações mais jovens, enfim, com o auto-respeito e o conceito de identidade que toda sociedade tem em maior ou menor escala.


O que há são fragmentos, lembranças de procedimentos, desorganizadas pela falta de interação entre as muitas gerações que separam a cultura desse povo e os dias de hoje.