Sanctuarium YUHUP-YUHUPDEH



 
Nomes alternativos: 
Makú-yahup, Yëhup,
 Yahup, Yahup Makú, “Maku”
Classificação linguística: Maku
População: 360 no Brasil (1995 MTB);
 600 em total (1986 SIL)
Local: Amazonas, 
Num tributário do Rio Vaupés. 
Talvez também na Colômbia.

Os Yuhupdeh vivem na região do Noroeste Amazônico e são grandes conhecedores dos caminhos, das técnicas para caçar e fazer veneno. São visto como nômades, poderosos feiticeiros e moradores dos interflúvios dos grandes rios. 

São chamados de Maku ou índios do mato, em contraposição aos Tukano e Aruak, denominados de índios do rio. 

A despeito desta oposição, os Yuhupdeh integram o sistema social do Noroeste Amazônico. Assim como a maioria dos povos da região, realizam os rituais de dabucuri e do Jurupari e também compartilham dos dois ciclos mitológicos mais difundidos: o da viagem da canoa da transformação (Yãh baah hóh) e o do aparecimento das flautas Jurupari (Ti’). Devido a um contato mais recente eles têm se destacado por manter a prática desses rituais.

O nome Yuhupdeh é usado como autodenominação de um conjunto de grupos que vivem na região do Noroeste Amazônico e quer dizer "gente" na língua Yuhup.

Na literatura etnográfica e linguística também aparecem registrados outras grafias para o nome: Yuhup, Yohop, Yahup, Yahúbde, Juhupde (Ospina 2008). 

É somente a partir da metade do século XX que estes nome aparecem como um etnônimo para se referir a um conjunto de grupos da região do rio Tiquié e do rio Apapóris. Antes disso, tais grupos eram reconhecidos genericamente sob o nome Maku. 

Em termos etimológicos, a hipótese mais aceita é que a palavra Maku é de origem origem Aruak – Ma: partícula privativa, Aku: fala – e significa "desprovido de fala". 


Outro sentido etimológico atribuído ao nome é "sem parente", pois em algumas línguas Aruak ku significa "Tio". Entretanto, há uma longa história em torno do nome Maku que pode ser remontada a partir de escritos do século XVIII.

Ao longo do tempo foram se associando ao termo vários significados. Nos registros dos séculos XVIII e XIX, o nome Maku é atribuído a órfãos capturados e depois comercializados com brancos como escravos. 

Os viajantes do século XIX também associaram o nome Maku a grupos que vagueavam sem residência fixa e de natureza nômade e caçadora. 

Caracterizações como "uma espécie miserável de humanidade" (Spruce 1908: 344), grupos "de pessoas pequenas e escuras, universalmente consideradas e tratadas como servas" (Whiffen 1915: 60)


COSMOLOGIA MITOLOGIA...

O cosmos Yuhup recebe o nome de Wag e pode ser distinguido em múltiplos planos e que tem como principais orientações: a terra dos mortais (Yuhup-bö-saah) onde vivem os Yuhupdeh atualmente, a terra do rio umari (Péj-dëh-saah) que se localiza no mundo subterrâneo, a casa de trovão (Pẽy mõy) que se localiza no mundo de cima, o caminho do sol (Weró-tíw) que indica a sua direção poente e nascente. Vários ciclos míticos contam sobre as formações desses planos cosmológicos e seus desdobramentos em outros planos. 

A mitologia Yuhup tem muitas narrativas que são compartilhadas com muitos outros grupos da região, incluindo Tukano e Aruak. 


As mais difundidas sendo as versões do aparecimento das flautas Jurupari (Ti’) e da viagem da canoa da transformação (Yãh baah hóh). Tais narrativas constituem um gênero da arte verbal Yuhup designado de Big ni dih, literalmente histórias de antigamente, cuja característica principal é a descrição das diversas gêneses do universo. 

O plano mítico, nesse sentido, é uma associação de uma multiplicidade de gêneses heterogêneas que vão se diferenciando ao longo do tempo e dando origem a uma diversidade de planos. 

Um aspecto fundamental dessas gêneses, e já muito notado na literatura antropológica, é que todas as gêneses se referem ao processo de aparecimento da condição de pessoa. Tanto seres humanos quanto animais, rios, serra, etc. aparecem inicialmente sob essa condição e vão se transformando e se diferenciando a partir daí. 

Os mitos contam que num determinado momento, no caso dos seres humanos, as transformações resultaram na ‘gente verdadeira’; no caso dos animais, das plantas, dos rios, transformações divergentes teriam resultado em 'gentes' diversas. Gentes que, do ponto de vista dos humanos, não aparecem, de modo geral, como pessoas.

O principal mito que conta a transformação em ‘gente verdadeira’ é o da viagem da canoa de transformação e têm como personagem Yuhup Sah Säw. 

Ele é quem conduz a canoa e, segundo a perspectiva dos Yuhupdeh, seria o comandante da viagem, decidindo aonde ir e onde parar. 

Posição que contraria a visão dos povos Tukano e Aruak cujas versões entendem que os Maku – inclusive os Yuhupdeh – são marinheiros da canoa que estariam à serviço deles.

Além da viagem da canoa de transformação, há várias narrativas míticas que têm como protagonista Sah Säw e que se estendem num período anterior e posterior à viagem. 

Tal ciclo mítico se caracteriza por contar como o universo passou a se organizar da forma como é atualmente. Antes da viagem Sah Säw é o encarregado de aprender as principais noções culturais e depois da viagem é o responsável em ensiná-las a seu neto Dö’-Saa.

As histórias envolvendo este neto constituem um novo ciclo mítico na medida em que a partir daí o universo começa a ser nomeado dentro da aparência atual para os Yuhupdeh. 

Por exemplo, no mundo de Sah Säw a pimenta era chamada de pun tat, a partir do nascimento Dö’-Saa passou a ser denominada de Kow; o breu o avô chamava de Teg duw dew e o neto de Wo’, etc. Tais ciclos míticos também são fonte fundamental para as práticas rituais e para as ações xamânicas.


RITUAL E XAMANISMO...

O xamanismo e as práticas rituais Yuhup se enfraqueceram ao longo dos últimos cinquenta anos e xamãs poderosos tornaram-se raros. Situação compartilhada com todos os grupos que vivem na região do Alto Rio Negro. 

Tal enfraquecimento está associado às missões salesianas que se instalaram na região por volta da década de 1940 e passaram a combater as práticas xamânicas. 

Os padres impediram a realização de rituais, tomaram os instrumentos rituais, proibiram a execução de benzimentos e de procedimentos de cura onde se extrai a doença. 

Outra estratégia utilizada pelos salesianos foi recrutar as crianças para os colégios internos a fim de civilizá-los e impedi-los que participassem dos rituais de iniciação com as flautas Jurupari.


Embora os Yuhupdeh tenham sido menos afetado pelo contato com os missionários – eram minoria nos internatos das missões, por exemplo – as consequências foram muito similares àquelas sofridas pelos outros grupos que prevaleciam nas missões. 

Tanto que os grupos Yuhupdeh que vivem na região do igarapé Castanha, do Ira e do Cunuri, se referem a um enfraquecimento dos pajés e benzedores e o associam à tomada dos instrumentos e ornamentos por parte dos missionários salesianos e à proibição de realização de rituais de iniciação, de cura e de dança. 


A língua Yuhup tem duas palavras para se referir ao xamã que são as palavras Säw e Mihdiid Säw, traduzidas geralmente como pajé e benzedor, respectivamente. Algo que a língua Yuhup compartilha com as línguas Tukano Oriental e Aruak, que também possuem dois termos para xamã. 

A principal diferença entre pajé e benzedor, conforme dito alguns benzedores Yuhup, é que o pajé tem a capacidade de se transformar em gente onça e negociar com essa gente. Outra diferença diz respeito aos procedimentos terapêuticos empregados para fazer a cura. 

O pajé consegue extrair a doença da pessoa e a partir disso identifica a doença. Uma das técnicas relatadas foi a cura com água. O Pajé põe um recipiente com água no chão em frente ao doente e começa a banhá-lo até que em determinado momento a doença cai sob o recipiente na forma de um objeto. Ele possui uma pedra de quartzo, que normalmente mantém pendurada ao pescoço. 

Ele tem a capacidade de viajar através dos sonhos para os diversos planos do mundo e o conhecimento sobre fórmulas verbais que enviam doença para algum inimigo. 

Durante o aprendizado dessas habilidades, é necessário obedecer rigorosamente restrições alimentares e sexuais e consumir tabaco, ipadu, caapi, paricá.

Além do benzedor não conseguir se transformar em onça, tampouco aplica a técnica de extrair a doença da pessoa. O seu procedimento terapêutico se concentra na execução de fórmulas verbais. 

Os indígenas da região usam a palavra benzimento para se referirem a essas fórmulas. É comum também aparecerem traduzidas como reza. 

Parte da bibliografia se refere a essas fórmulas como encantação. Os benzimentos podem se diferenciar em três tipos: os de nominação, os de cura e os de proteção. 

O benzedor é o responsável por conduzir os rituais de iniciação masculina com o uso de flautas Jurupari (Tí’). 

Esses rituais com flautas são disseminados por toda a região do alto rio Negro e é um dos fatores que permite concebê-la como um sistema integrado. Além das próprias flautas, os povos da região compartilham versões sobre a origem dessas flautas. 

A invariante que conecta todas as versões é a retomada por parte dos homens dessas flautas, que foram inapropriadamente tomadas pelas mulheres. 

Durante esse período em que os iniciantes e os homens veem as flautas Jurupari (Tí’), eles obedecem restrições alimentares e sexuais e os iniciantes aprendem a consumir tabaco, ipadu, paricá e caapi. O benzedor que coordena o ritual, conta mitos e benzimentos para os jovens.

Além do ritual de iniciação masculina, existem outro rituais de danças que podem ser distinguidos entre as danças cariço e Caapiwaya. 

A Dança Cariço é denominada em Yuhup como Be’ e frequentemente executada nos rituais de troca de alimentos, comumente conhecido na região do Alto Rio Negro como dabucuri. 

A Dança Caapiwaya, também pode estar ligada a um dabucuri, e são executadas em ciclos que duram um dia e meio, onde homens enfeitados com ornamentos dançam sob a condução do mestre de dança e cantam uma música de língua incompreensível que remonta ao tempo da gênese das primeiras geração de pessoas. 

Os mestres de dança que conduzem tais rituais são chamados na língua Yuhup de yãm säw.